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Capítulo 10
TRANSTORNOS MENTAIS E DO
COMPORTAMENTO RELACIONADOS COM O TRABALHO
10.1
Introdução1
Segundo estimativa da
Organização Mundial da Saúde (OMS) os Transtornos Mentais menores acometem cerca
de 30% dos trabalhadores ocupados e os Transtornos Mentais graves cerca de 5 a
10%. No Brasil, dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) sobre a
concessão de benefícios previdenciários de “auxílio-doença”, por incapacidade
para o trabalho superior a 15 dias, e de “aposentadoria por invalidez”, por
incapacidade definitiva para o trabalho, mostram que os Transtornos
mentais, com destaque para o alcoolismo crônico, ocupam o
terceiro lugar, entre as causas dessas ocorrências. (Medina,
1986).
Em nossa sociedade, o
trabalho é mediador de integração social, seja por seu valor econômico
(subsistência), seja pelo aspecto cultural (simbólico), tendo assim, importância
fundamental na constituição da subjetividade, no modo de vida e portanto na
saúde física e mental das pessoas. A contribuição do trabalho para as alterações
da saúde mental das pessoas dá-se a partir de ampla gama de aspectos: desde
fatores pontuais como a exposição a determinado agente tóxico até a complexa
articulação de fatores relativos à organização do trabalho, como a divisão e
parcelamento das, as políticas de gerenciamento das pessoas, a estrutura
hierárquica organizacional. Os Transtornos Mentais e do Comportamento
Relacionados ao Trabalho resultam, assim, não de fatores isolados, mas de
contextos de trabalho em iteração com o corpo e aparato psíquico dos
trabalhadores. As ações implicadas no ato de trabalhar podem atingir o corpo dos
trabalhadores, produzindo disfunções e lesões biológicas, mas, também, reações
psíquicas às situações de trabalho patogênicas, além de poderem desencadear
processos psicopatológicos especificamente relacionados às condições do trabalho
desempenhado pelo trabalhador.
Em decorrência do lugar de
destaque que o trabalho ocupa na vida das pessoas, sendo fonte de garantia de
subsistência e de posição social, a falta de trabalho, ou mesmo a ameaça de
perda do emprego, geram sofrimento psíquico, pois ameaçam a subsistência e vida
material do trabalhador e de sua família ao mesmo tempo que abala o valor
subjetivo que a pessoa se atribui, gerando sentimentos de menos-valia, angústia,
insegurança, desânimo e desespero, caracterizando quadros ansiosos e
depressivos.
O atual quadro econômico
mundial, em que as condições de insegurança no emprego, sub-emprego e a
segmentação do mercado de trabalho são crescentes, reflete-se em processos
internos de reestruturação da produção, enxugamento de quadro de funcionários,
incorporação tecnológica, repercutindo sobre a saúde mental dos
trabalhadores.
O trabalho ocupa também um lugar fundamental na dinâmica do investimento afetivo das pessoas. Condições favoráveis à livre utilização das habilidades dos trabalhadores, ao controle do trabalho pelos trabalhadores e que ofereça o suporte social necessário, entre outras características, têm sido identificadas como importantes requisitos para que o trabalho possa proporcionar prazer, bem-estar e saúde, deixando de provocar doenças. Por outro lado, o trabalho desprovido de significação, o trabalho não reconhecido ou que se constitua em fonte de ameaça à integridade física e/ou psíquica pode desencadear sofrimento psíquico.
Situações variadas como um
fracasso, um acidente de trabalho, uma mudança de posição (ascensão ou queda) na
hierarquia numa carreira profissional, freqüentemente, determinam quadros
psicopatológicos diversos, desde os chamados Transtornos de Ajustamento ou
Reações ao Estresse até depressões graves e incapacitantes, variando segundo
características do contexto da situação e do modo do indivíduo responder a
elas.
O processo de comunicação
dentro do ambiente de trabalho, moldado pela cultura organizacional, também é
considerado fator importante na determinação da saúde mental. Ambientes que
impossibilitam a comunicação espontânea e a manifestação de insatisfações,
sugestões dos trabalhadores em relação à organização ou ao trabalho desempenhado
provocará tensão e, por conseguinte, sofrimento e distúrbios mentais.
Freqüentemente, o sofrimento e a insatisfação do trabalhador manifesta-se, não
apenas pela doença, mas nos índices de absenteísmo, conflitos
interpessoais e extra-trabalho. Os fatores relacionados ao tempo e ao
ritmo de trabalho são muito importantes na determinação do sofrimentos psíquico
relacionado ao trabalho. Jornadas de trabalho longas, com poucas pausas
destinadas ao descanso e/ou refeições de curta duração e em lugares
desconfortáveis, turnos de trabalho noturnos, turnos alternados ou turnos
iniciando muito cedo pela manhã; ritmos intensos ou monótonos; submissão do
trabalhador ao ritmo das máquinas, sob as quais não tem controle; pressão de
supervisores ou chefias por mais velocidade e produtividade causam, com
freqüência, a quadros ansiosos, fadiga crônica e distúrbios do
sono.
Os níveis de atenção e
concentração exigidos para a realização das tarefas, combinados com o nível de
pressão exercido pela organização do trabalho, podem gerar tensão, fadiga e
esgotamento profissional ou burnout.
Estudos têm demonstrado que
alguns metais pesados e solventes podem ter ação tóxica direta sobre o sistema
nervoso, determinando distúrbios mentais e alterações do comportamento que se
manifestam por irritabilidade, nervosismo, inquietação, distúrbios da memória e
da cognição, inicialmente pouco específicos e por fim, com evolução crônica,
muitas vezes irreversível e incapacitante.
Os acidentes de trabalho
podem ter conseqüências mentais quando, por exemplo, afetam o sistema nervoso
central, como nos traumatismos crânio-encefálicos com concussão e/ou contusão. A
vivência de acidentes de trabalho que envolvem risco de vida ou que ameaçam a
integridade física dos trabalhadores determinam por vezes quadros
psicopatológicos típicos, caracterizados como síndromes psíquicas
pós-traumáticas. Por vezes, temos síndromes relacionadas à disfunção ou lesão
cerebral, sobrepostas a sintomas psíquicos, combinando-se ainda à deterioração
da rede social em função de mudanças no panorama econômico do trabalho,
agravando os quadros psiquiátricos.
Contextos de trabalho particulares têm sido associados a quadros psicopatológicos específicos, aos quais são atribuidas terminologias específicas. Seligmann-Silva propõe uma caracterização para alguns casos clínicos já observados. Um exemplo é o burn-out (traduzido para o português como síndrome do esgotamento profissional ou estafa), síndrome caracterizada por exaustão emocional, desporsonalização e auto-depreciação. Inicialmente relacionada a profissões ligadas à prestação de cuidados e assistência a pessoas, especialmente em situações economicamente críticas e de carência, a denominação vem sendo estendida a outras profissões, mantendo-se a relação com trabalhos que envolvem alto investimento afetivo e pessoal e em que as ações de trabalho tem como objeto problemas humanos de alta complexidade e determinação fora do alcance do trabalhador como dor, sofrimento, injustiça, miséria (Seligmann-Silva, 1995). Outro exemplo são as síndromes pós-traumáticas que se referem a vivências de situações traumáticas no ambiente de trabalho, nos últimos tempos cada vez mais freqüentes, como por exemplo, o grande número de assaltos a agências bancárias com reféns.
A prevenção das doenças mentais e do comportamento relacionadas com o trabalho baseia-se nos procedimentos de vigilância epidemiológica de agravos e vigilância sanitária de ambientes e condições de trabalho. Utiliza conhecimentos médico-clínicos, epidemiológicos, de higiene ocupacional, toxicologia, ergonomia, psicologia, entre outras disciplinas, valoriza a percepção dos trabalhadores sobre seu trabalho e a saúde e nas normas técnicas e regulamentos vigentes, envolvendo:
A vigilância da saúde dos trabalhadores deve considerar a multiplicidade de fatores envolvidos na determinação das doenças mentais e comportamentais relacionadas com o trabalho. Em alguns casos são de natureza química, em outros, intrinsecamente relacionados às formas de organização e gestão do trabalho ou mesmo da ausência de trabalho. Em muitos casos, decorrem de uma ação sinérgica desses fatores.
A partir da confirmação do diagnóstico da doença e do estabelecimento de sua relação com o trabalho, seguindo os procedimentos descritos no capítulo 2, os serviços de saúde responsáveis pela atenção à saúde dos trabalhadores devem implementar as seguintes ações:
A definição de disfunção e incapacidade causada pelos transtornos mentais e do comportamento, relacionados ou não com o trabalho é difícil. Os indicadores e parâmetros2 propostos pela Associação Médica Americana (AMA) organizam a disfunção ou deficiência causadas pelos transtornos mentais e do comportamento em quatro áreas:
Alguns conceitos e noções
considerados básicos para o campo da Saúde Mental e Trabalho encontram-se
definidos em glossário ao final deste capítulo. Os termos específicos da
Psicopatologia Geral encontram-se definidos nos Manuais de
Psiquiatria.
BERTOLOTE, J. M. (Org.) –
Glossário de Termos de Psiquiatria e Saúde Mental da CID-10 e seus
Derivados. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997.
DEJOURS, C. – A
loucura do trabalho. São Paul, Ed. Oboré. 1987.
ILO – Encyclopaedia of
Occupational Health and Safety. 4th ed. Geneva. ILO,
1998.
KAPLAN, H. I.; SADOCK, B.
J. & GREBB, J. A – Compêndio de Psiquiatria. Porto Alegre, Artes
Médicas, 1997
MEDINA, M.C. G. - A aposentadoria por
invalidez no Brasil. São Paulo, 1986. [Dissertação de Mestrado, Faculdade de
Saúde Pública da USP].
OMS – Classificação de
Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições Clínicas e
Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organização Mundial da Saúde; trad.
Dorgival Caetano. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997.
SELIGMANN-SILVA, E. -
Psicopatologia e Psicodinâmica no Trabalho. In: MENDES, R. (Ed.) –
Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro, Atheneu, 1995. p.
287-310.
SELIGMANN-SILVA, E. – A Interface Desemprego Prolongado e Saúde Psicossocial. In SILVA FILHO, J.F. (Org) – A Danação do Trabalho, Rio de Janeiro, Te Corá, 1997, p. 19-63.
DEMÊNCIA EM OUTRAS DOENÇAS ESPECÍFICAS CLASSIFICADAS EM OUTROS
LOCAIS RELACIONADA COM O TRABALHO CÓDIGO CID-10: F02.8 |
I – DEFINIÇÃO DA DOENÇA/DESCRIÇÃO |
Demência é conceituada como síndrome, geralmente crônica e progressiva, devida a uma patologia encefálica, de caráter adquirido, na qual se verificam diversas deficiências das funções corticais superiores, incluindo: memória, pensamento, orientação, compreensão, cálculo, capacidade de aprender, linguagem e julgamento. A consciência não é afetada e as deficiências cognitivas são acompanhadas e ocasionalmente, precedidas por deterioração do controle emocional, da conduta social ou da motivação (Bertolote, 1997). Pode estar associada a inúmeras doenças, que atingem primária ou secundariamente o cérebro, entre elas a epilepsia; o alcoolismo; a degeneração hepatolenticular; o hipotireoidismo adquirido; o lúpus eritematoso sistêmico; a tripanosomíase e as intoxicações; às doenças pelo HIV; a doença de Huntington; doença de Parkinson; a ocorrência de infartos múltiplos e outras doenças vasculares cerebrais isquêmicas; e a contusões cerebrais repetidas como as sofridas pelos boxeadores. |
II
– EPIDEMIOLOGIA/FATORES DE RISCO DE NATUREZA
OCUPACIONAL CONHECIDOS |
As demências devidas a drogas e toxinas (incluindo a demência devida ao alcoolismo crônico) correspondem a 10 a 20% dos casos de demência em geral. Os traumatismos cranianos respondem por 1 a 5% dos casos. Não estão disponíveis dados que indiquem as porcentagens referentes à contribuição do trabalho ou da ocupação. Quadros de demência têm sido encontrados entre os efeitos da exposição ocupacional às seguintes substâncias químicas tóxicas ou condições de trabalho:
Em trabalhadores expostos a estas substâncias químicas neurotóxicas, entre outras, o diagnóstico de demência relacionada com o trabalho, excluídas outras causas não ocupacionais, deve ser enquadrado no Grupo I da Classificação de Schilling, em que o trabalho é considerado causa necessária. |
III – QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO |
Critérios Diagnósticos:
Um declínio nas capacidades cognitivas é essencial para o diagnóstico de demência. As interferências no desempenho de papéis sociais dentro da família, no trabalho e em outras esferas da vida de relação não devem ser utilizadas como única diretriz ou critério diagnóstico. Entretanto, estas podem servir como indicadores da investigação do diagnóstico de demência e, uma vez feito o diagnóstico, como um indicador útil da gravidade do quadro. |
IV – TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS |
A abordagem dos pacientes demenciados caracteriza-se por cuidados médicos de suporte:
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V – PREVENÇÃO |
A prevenção da demência relacionada ao trabalho consiste, basicamente, da vigilância sobre os ambientes e condições de trabalho e da vigilância dos efeitos ou danos à saúde, conforme descrito na Introdução deste capítulo. Requer uma ação integrada, articulada entre os setores assistenciais e da vigilância sendo desejável que o atendimento seja feito por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, capacitada a lidar e dar suporte ao sofrimento psíquico do trabalhador, e aos aspectos sociais e de intervenção nos ambientes de trabalho. Na presença de um fator de risco químico as medidas de controle ambiental visam a eliminação ou redução dos níveis de exposição, através de:
A intervenção sobre as condições de trabalho se baseia na análise ergonômica do trabalho real ou da atividade, buscando conhecer, entre outros aspectos :
A participação dos
trabalhadores e dos níveis gerenciais é essencial para a implementação das
medidas corretivas e de promoção da saúde que envolvem modificações na
organização do trabalho. Praticas de promoção da saúde e de ambientes de
trabalho saudáveis devem incluir ações de educação e prevenção do abuso de
drogas, especialmente álcool. A prevenção de acidentes graves com
potencial para causar traumatismos cranio-encefálicos deve ser
sistemática, através de práticas gerenciais e medidas de segurança
adequadas, com a participação dos trabalhadores. Feito o diagnóstico e confirmada a relação da doença com o trabalho deve ser realizado:
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VI – OBSERVAÇÕES ADICIONAIS E LEITURAS RECOMENDADAS |
BERTOLOTE, J. M. (Org.) –
Glossário de Termos de Psiquiatria e Saúde Mental da CID-10 e seus
Derivados. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997. OMS –
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10:
Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organização
Mundial da Saúde; trad. Dorgival Caetano. Porto Alegre, Artes Médicas,
1997. RAMOS, A. e cols. –
Aspectos psiquiátricos da intoxicação ocupacional pelo mercúrio metálico:
relato de um caso clínico. Revista ABP-APAL, 20(4),
1998. REY, L. –
Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. Rio de Janeiro,
Guanabara Koogan. 1999. SANDOVAL O., H. &
SALLATO, A. – Sistema Nervoso (Doenças Neurológicas e Comportamentais
Ocupacionais). In: MENDES, R. (Ed.) – Patologia do
Trabalho. Rio de Janeiro, Atheneu, 1995.
p.269-86. RIGOTTO, R.M. &
ROCHA, L.E - Como conduzir-se diante dos agravos à saúde dos
trabalhadores? In BUSCHINELLI, J.T.P.; ROCHA, L.E. & RIGOTTO,
R.M.(Orgs.) – Isto é Trabalho de Gente? Petrópolis, Vozes, 1994,
p.275-93. SELIGMANN-SILVA, E. - Psicopatologia e Psicodinâmica no Trabalho. In: MENDES, R. (Ed.) – Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro, Atheneu, 1995. p. 287-310. |
DELIRIUM, NÃO SOBREPOSTO A DEMÊNCIA, RELACIONADO COM O
TRABALHO CÓDIGO CID-10: F05.0 |
I – DEFINIÇÃO DA DOENÇA/DESCRIÇÃO |
Delirium é uma síndrome caracterizada por rebaixamento do nível de consciência, com distúrbio da orientação (no tempo e no espaço) e da atenção (hipovigilância e hipotenacidade), associados ao comprometimento global das funções cognitivas. Podem ocorrer alterações do humor (irritabilidade), da percepção (ilusões e/ou alucinações especialmente visuais), do pensamento (ideação delirante), do comportamento (reações de medo e agitação psicomotora). Geralmente o paciente apresenta uma inversão característica do ritmo vigília-sono com sonolência diurna e agitação noturna. Pode vir acompanhado de sintomas neurológicos como tremor, asterixis, nistagmo, incoordenação motora e incontinência urinária. Geralmente, o Delirium tem um início súbito (em horas ou dias), um curso breve e flutuante, e uma melhora rápida assim que o fator causador é identificado e corrigido. O Delirium pode ocorrer no curso de uma demência, pode evoluir para demência, para recuperação completa ou para a morte. Apresenta distintos níveis de gravidade, de formas leves a muito graves. |
II – EPIDEMIOLOGIA/FATORES DE RISCO DE NATUREZAOCUPACIONAL CONHECIDOS |
Quadros de delirium têm sido encontrados entre os efeitos da exposição ocupacional às seguintes substâncias químicas tóxicas ou condições de trabalho:
Deve ser afastada a
possibilidade de uma demência pré-existente, estabelecida ou em evolução.
O delirium pode decorrer de uma condição médica geral, como o
experimentado por alguns pacientes durante períodos de hospitalização.
(Cerca de 15 a 25% dos pacientes em alas de Medicina Interna e 30% dos
pacientes em alas cirúrgicas de tratamento intensivo e unidades cardíacas
apresentam delirium por intoxicação com substância - devendo ser
verificada a droga específica envolvida - ou abstinência de substância
ou devido a múltiplas etiologias). Em trabalhadores expostos a estas substâncias químicas neurotóxicas, entre outras, o diagnóstico de delirium relacionado com o trabalho, excluídas outras causas não ocupacionais, pode ser enquadrado no Grupo I da Classificação de Schilling, em que o trabalho é considerado causa necessária. |
III – QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO |
No que se refere aos quadros relacionados ao trabalho, devem ser observados os seguintes critérios diagnósticos:
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IV – TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS |
O delirium, enquanto um quadro agudo ou subagudo, caracteriza-se como uma emergência médica e o primeiro objetivo do tratamento é controlar a condição ou o fator que o está causando. No caso da exposição ocupacional a agentes tóxicos para o sistema nervoso central, o afastamento do paciente/trabalhador do ambiente de trabalho é a primeira conduta a ser tomada. Prover suporte físico (evitar acidentes: os pacientes podem se machucar devido à desorientação e alterações psicomotoras), sensorial e ambiental (controle do nível de estímulos do ambiente: nem poucos nem muitos, manter referências conhecidas pelo paciente e pessoas calmas e familiares por perto). O tratamento farmacológico sintomático é necessário nos casos em que há insônia e sintomas psicóticos como alucinações, delírios e agitação psicomotora. O medicamento de escolha é o haloperidol em dose inicial variando de 2 a 10 mg (dependendo do peso, idade e das condições físicas do paciente) por via intramuscular, repetida ao final de uma hora se o paciente permanecer agitado. A dose oral deve ser 1,5 vezes maior que a parenteral para manter o mesmo efeito terapêutico. A dose diária efetiva de haloperidol pode variar de 5 a 50 mg de acordo com a gravidade do delirium. A insônia pode ser tratada com benzodiazepínicos de meia-vida curta como o lorazepam. O uso de anticonvulsivantes está indicado nos casos em que há convulsões concomitantes. |
V – PREVENÇÃO |
A prevenção do “Delirium, não sobreposto à demência, relacionado com o trabalho” consiste na vigilância dos ambientes e condições de trabalho e vigilância dos efeitos ou danos à saúde, conforme descrito na Introdução deste capítulo. Requer uma ação integrada, articulada entre os setores assistenciais e da vigilância sendo desejável que o atendimento seja feito por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, capacitada a lidar e dar suporte ao sofrimento psíquico do trabalhador, e aos aspectos sociais e de intervenção nos ambientes de trabalho. As medidas de controle ambiental visam a eliminação ou redução da exposição a substâncias químicas envolvidas na gênese da doença, através de:
A intervenção sobre as condições de trabalho se baseia na análise ergonômica do trabalho real ou da atividade, buscando conhecer, entre outros aspectos:
A participação dos
trabalhadores e dos níveis gerenciais é essencial para a implementação das
medidas corretivas e de promoção da saúde que envolvem modificações na
organização do trabalho. Praticas de promoção da saúde e de ambientes de
trabalho saudáveis devem incluir ações de educação e prevenção do abuso de
drogas, especialmente álcool. Feito o diagnóstico e confirmada a relação da doença com o trabalho deve ser realizado:
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VII – OBSERVAÇÕES ADICIONAIS E LEITURAS RECOMENDADAS |
BERTOLOTE, J. M. (Org.) – Glossário de Termos de Psiquiatria e Saúde Mental da CID-10 e seus Derivados. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997. ILO –
Encyclopaedia of Occupational Health and Safety. 4th ed.
Geneva. ILO, 1998. KAPLAN, H. I.;
SADOCK, B. J. & GREBB, J. A – Compêndio de Psiquiatria. Porto
Alegre, Artes Médicas, 1997. LEVY, B. S. &
WEGMAN, D. H. – Occupational Health: Recognizing and Preventing
Work-Related Disease and Injury. 4th ed. Philadelphia.
Lippincott Williams & Wilkins, 2000. OMS –
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10:
Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organização
Mundial da Saúde; trad. Dorgival Caetano. Porto Alegre, Artes Médicas,
1997. SANDOVAL O., H. &
SALLATO, A. – Sistema Nervoso (Doenças Neurológicas e Comportamentais
Ocupacionais). In: MENDES, R. (Ed.) – Patologia do
Trabalho. Rio de Janeiro, Atheneu, 1995.
p.269-86. REY, L. –
Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. Rio de Janeiro,
Guanabara Koogan. 1999. SELIGMANN-SILVA, E.- Psicopatologia e Psicodinâmica no Trabalho. In: MENDES, R. (Ed.) – Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro, Atheneu, 1995. p. 287-310. |
TRANSTORNO COGNITIVO LEVE RELACIONADO COM O TRABALHO
CÓDIGO CID-10: F06.7 |
I - DEFINIÇÃO DA DOENÇA/DESCRIÇÃO |
Transtorno cognitivo leve caracteriza-se por alterações da memória, da orientação, e da capacidade de aprendizado, bem como por reduzida capacidade de concentração em tarefas além de períodos curtos. O paciente se queixa de intensa sensação de fadiga mental ao executar tarefas mentais e, um aprendizado novo é percebido subjetivamente como difícil, ainda que objetivamente consiga realizá-lo bem. Estes sintomas podem manifestar-se precedendo, ou sucedendo quadros variados de infecções (inclusive por HIV) ou de distúrbios físicos, tanto cerebrais quanto sistêmicos, sem que haja evidências diretas de comprometimento cerebral. |
II
– EPIDEMIOLOGIA/FATORES DE RISCO DE NATUREZA
OCUPACIONAL CONHECIDOS |
Quadros de transtorno cognitivo leve têm sido encontrados entre os efeitos da exposição ocupacional às seguintes substâncias químicas tóxicas e agentes físicos:
Em trabalhadores expostos a estas substâncias químicas neurotóxicas, entre outras, o diagnóstico de transtorno cognitivo leve relacionado com o trabalho, excluídas outras causas não ocupacionais, pode ser enquadrado no Grupo I da Classificação de Schilling, em que o trabalho é considerado causa necessária. |
III – QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO |
A principal manifestação é um declínio no desempenho cognitivo, que inclui queixas de comprometimento da memória, dificuldades de aprendizado ou de concentração. Testes psicológicos objetivos podem ser úteis, devem ser interpretados com cuidado dada sua inespecificidade e a confusão com outras causas ligadas às condições de vida. O diagnóstico diferencial entre esta doença e a síndrome pós-encefalítica ou a síndrome pós-traumática pode ser feito a partir da etiologia, e da menor amplitude dos sintomas, geralmente mais leves e de mais curta duração. |
IV – TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS |
O diagnóstico de transtorno cognitivo leve indica a existência de agravos à fisiologia normal do córtex cerebral. Considerando que a causa do agravo (agente tóxico), no caso do transtorno cognitivo leve relacionado ao trabalho, encontra-se no ambiente ocupacional, a principal medida terapêutica é o afastamento do paciente do trabalho. A avaliação
criteriosa do estágio de comprometimento das funções cognitivas deve ser
feita por especialista . A condução médica, psicológica e social do caso
incluem o tratamento farmacológico e sintomático: benzodiazepínicos para
insônia e ansiedade; antidepressivos para depressão. Sintomas psicóticos
nos casos de transtorno cognitivo leve são raros. Dependendo
do grau de disfunção e/ou lesão pode-se avaliar a utilidade da
reabilitação neuropsicológica do paciente e da reabilitação
profissional. As medidas de controle médico e vigilância com relação aos demais trabalhadores expostos ao agente tóxico no mesmo ambiente de trabalho são fundamentais na prevenção de outros casos. |
V – PREVENÇÃO |
A prevenção do “Transtorno cognitivo leve relacionado com o trabalho” consiste na vigilância dos os ambientes e condições de trabalho e vigilância dos efeitos ou danos à saúde, conforme descrito na Introdução deste capítulo. Requer uma ação
integrada, articulada entre os setores assistenciais e da vigilância,
sendo desejável que o atendimento seja feito por uma equipe
multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, capacitada a lidar e
dar suporte ao sofrimento psíquico do trabalhador, e aos aspectos sociais
e de intervenção nos ambientes de trabalho. As medidas de controle ambiental visam a eliminação ou redução dos níveis de exposição às substâncias químicas envolvidas na gênese da doença, através de:
A intervenção sobre as condições de trabalho se baseia na análise ergonômica do trabalho real ou da atividade, buscando conhecer, entre outros aspectos:
A participação dos
trabalhadores e dos níveis gerenciais é essencial para a implementação das
medidas corretivas e de promoção da saúde que envolvem modificações na
organização do trabalho. Práticas de promoção da saúde e de ambientes de
trabalho saudáveis devem incluir ações de educação e prevenção do abuso de
drogas, especialmente álcool. Feito o diagnóstico e confirmada a relação da doença com o trabalho deve ser realizado:
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VII – OBSERVAÇÕES ADICIONAIS E LEITURAS RECOMENDADAS |
BERTOLOTE, J. M. (Org.) – Glossário de Termos de Psiquiatria e Saúde Mental da CID-10 e seus Derivados. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997. ILO –
Encyclopaedia of Occupational Health and Safety. 4th ed.
Geneva. ILO, 1998. KAPLAN, H. I.;
SADOCK, B. J. & GREBB, J. A – Compêndio de Psiquiatria. Porto
Alegre, Artes Médicas, 1997. LEVY, B. S. &
WEGMAN, D. H. – Occupational Health: Recognizing and Preventing
Work-Related Disease and Injury. 4th ed. Philadelphia.
Lippincott Williams & Wilkins, 2000. OMS –
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10:
Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organização
Mundial da Saúde; trad. Dorgival Caetano. Porto Alegre, Artes Médicas,
1997. REY, L. –
Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. Rio de Janeiro,
Guanabara Koogan. 1999. RIGOTTO, R.M. –
Aprendendo a desvelar a doença profissional: intoxicação por chumbo
inorgânico. In BUSCHINELLI, J.T.P.; ROCHA, L.E & RIGOTTO,
R.M.(Orgs.) – Isto é Trabalho de Gente? Petrópolis, Vozes, 1994,
p.376-97. SANDOVAL, O. H. &
SALLATO, A – Sistema Nervoso (Doenças Neurológicas e Comportamentais
Ocupacionais). In: MENDES, R. (Ed.) – Patologia do
Trabalho. Rio de Janeiro, Atheneu, 1995.
p.269-86. SELIGMANN-SILVA, E. - Psicopatologia e Psicodinâmica no Trabalho. In: MENDES, R. (Ed.) – Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro, Atheneu, 1995. p. 287-310. |
TRANSTORNO ORGÂNICO DE PERSONALIDADE RELACIONADO COM O
TRABALHO CÓDIGO CID-10: F07.0 |
I – DEFINIÇÃO DA DOENÇA/DESCRIÇÃO |
Transtorno orgânico de personalidade é conceituado como a alteração da personalidade e de comportamento que aparece como um transtorno residual ou concomitante de uma doença, lesão ou disfunção cerebral. Caracteriza-se por uma alteração significativa dos padrões habituais de comportamento pré-mórbido, particularmente no que se refere à expressão das emoções, necessidades e impulsos. As funções cognitivas podem estar comprometidas de modo particular ou mesmo exclusivo nas áreas de planejamento e antecipação das prováveis conseqüências pessoais e sociais como na chamada “síndrome do lobo frontal”, que pode ocorrer não apenas associada à lesão no lobo frontal, mas também em lesões de outras áreas cerebrais circunscritas. |
II – EPIDEMIOLOGIA/FATORES DE RISCO DE NATUREZAOCUPACIONAL CONHECIDOS |
Quadros de transtorno orgânico de personalidade têm sido encontrados entre os efeitos da exposição ocupacional às seguintes substâncias químicas tóxicas:
Em trabalhadores expostos a estas substâncias químicas neurotóxicas, entre outras, o diagnóstico de transtorno orgânico de personalidade, excluídas outras causas não ocupacionais, pode ser enquadrado no Grupo I da Classificação de Schilling, em que o trabalho é considerado causa necessária. |
III – QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO |
Além de uma história bem definida ou outra evidência de doença ou disfunção cerebral, um diagnóstico definitivo requer a presença de dois ou mais do seguintes aspectos:
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IV – TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS |
Sendo o transtorno orgânico de personalidade relacionado ao trabalho uma seqüela de disfunção ou lesão cerebral, o tratamento objetiva a reabilitação social, ou seja, diminuir os prejuízos advindos do comportamento pessoal e social alterado. O tratamento
farmacológico é sintomático: benzodiazepínicos para insônia e ansiedade;
antidepressivos para depressão e antipsicóticos para comportamento
disruptivo. Pode estar indicado o uso de carbamazepina para controle
da impulsidade. Geralmente há a indicação de aposentadoria por invalidez e de medidas de reabilitação dirigidas para a socialização do paciente na família e na comunidade. |
V – PREVENÇÃO |
A prevenção do “Transtorno orgânico de personalidade relacionado com o trabalho” consiste na vigilância sobre os ambientes e condições de trabalho e vigilância dos efeitos ou danos à saúde, conforme descrito na Introdução deste capítulo. Requer uma ação integrada, articulada entre os setores assistenciais e da vigilância sendo desejável que o atendimento seja feito por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, capacitada a lidar e dar suporte ao sofrimento psíquico do trabalhador, e aos aspectos sociais e de intervenção nos ambientes de trabalho. As medidas de controle ambiental visam a eliminação ou redução dos níveis de exposição a substâncias químicas envolvidas na gênese da doença, através de:
A intervenção sobre as condições de trabalho se baseia na análise ergonômica do trabalho real ou da atividade, buscando conhecer fatores que podem contribuir para o adoecimento como por exemplo:
A participação dos
trabalhadores e dos níveis gerenciais é essencial para a implementação das
medidas corretivas e de promoção da saúde que envolvem modificações na
organização do trabalho. Praticas de promoção da saúde e de ambientes de
trabalho saudáveis devem incluir ações de educação e prevenção do abuso de
drogas, especialmente álcool. Feito o diagnóstico e confirmada a relação da doença com o trabalho deve ser realizado:
|
VI – OBSERVAÇÕES ADICIONAIS E LEITURAS RECOMENDADAS |
BERTOLOTE, J. M. (Org.) – Glossário de Termos de Psiquiatria e Saúde Mental da CID-10 e seus Derivados. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997. ILO –
Encyclopaedia of Occupational Health and Safety. 4th ed.
Geneva. ILO, 1998. KAPLAN, H. I.;
SADOCK, B. J. & GREBB, J. A – Compêndio de Psiquiatria. Porto
Alegre, Artes Médicas, 1997. LEVY, B. S. &
WEGMAN, D. H. – Occupational Health: Recognizing and Preventing
Work-Related Disease and Injury. 4th ed. Philadelphia.
Lippincott Williams & Wilkins, 2000. OMS –
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10:
Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organização
Mundial da Saúde; trad. Dorgival Caetano. Porto Alegre, Artes Médicas,
1997. REY, L. –
Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. Rio de Janeiro,
Guanabara Koogan. 1999. RIGOTTO, R.M. –
Aprendendo a desvelar a doença profissional: intoxicação por chumbo
inorgânico. In BUSCHINELLI, J.T.P.; ROCHA, L.E & RIGOTTO,
R.M.(orgs.) – Isto é Trabalho de Gente? Petrópolis, Vozes, 1994,
p.376-97. SANDOVAL, O. H. &
SALLATO, A – Sistema Nervoso (Doenças Neurológicas e Comportamentais
Ocupacionais). In: MENDES, R. (Ed.) – Patologia do
Trabalho. Rio de Janeiro, Atheneu, 1995.
p.269-86. SELIGMANN-SILVA, E. - Psicopatologia e Psicodinâmica no Trabalho. In: MENDES, R. (Ed.) – Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro, Atheneu, 1995. p. 287-310. |
TRANSTORNO MENTAL ORGÂNICO ou SINTOMÁTICO NÃO ESPECIFICADO RELACIONADO COM O TRABALHO CÓDIGO CID-10: F09. - |
I - DEFINIÇÃO DA DOENÇA/DESCRIÇÃO |
Este termo compreende uma série de transtornos mentais agrupados por terem em comum uma doença cerebral de etiologia demonstrável, uma lesão cerebral ou outro dano que leva a uma disfunção que pode ser primária, como nas doenças, lesões ou danos que afetam direta e seletivamente o cérebro ou secundária, como nas doenças sistêmicas nas quais o cérebro é um dos múltiplos órgãos envolvidos. Fazem parte deste grupo a demência na doença de Alzheimer, a demência vascular, a síndrome amnésica orgânica (não induzida por álcool ou psicotrópicos) e vários outros transtornos orgânicos (alucinose, estado catatônico, delirante, do humor, da ansiedade) a síndrome pós-encefalite e pós-traumática, incluindo, também, a psicose orgânica e a psicose sintomática. |
II
– EPIDEMIOLOGIA/FATORES DE RISCO DE NATUREZA
OCUPACIONAL CONHECIDOS |
Quadros de transtorno mental orgânico ou sintomático têm sido encontrados entre os efeitos da exposição ocupacional às seguintes substâncias químicas tóxicas:
Em trabalhadores expostos a estas substâncias químicas neurotóxicas, entre outras, o diagnóstico de transtorno mental orgânico ou sintomático, excluídas outras causas não ocupacionais, pode ser enquadrado no Grupo I da Classificação de Schilling, em que o trabalho é considerado causa necessária. |
III – QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO |
O quadro clínico caracteriza-se pela evidência de doença, lesão ou disfunção cerebral ou de uma doença física sistêmica, sabidamente associada a uma das síndromes relacionadas:
|
IV – TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS |
O tratamento farmacológico do transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado relacionado ao trabalho é sintomático: benzodiazepínicos para insônia e ansiedade; antidepressivos para depressão e antipsicóticos para comportamento disruptivo. Pode estar indicado o uso de carbamazepina para controle da impulsidade. Geralmente há a indicação de aposentadoria por invalidez, com as medidas de reabilitação dirigindo-se mais para a socialização do paciente na família e na comunidade. |
V – PREVENÇÃO |
A prevenção do “Transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado relacionado ao trabalho” consiste na vigilância sobre os ambientes e condições de trabalho e vigilância dos efeitos ou danos à saúde, conforme descrito na Introdução deste capítulo. Requer uma ação integrada, articulada entre os setores assistenciais e da vigilância sendo desejável que o atendimento seja feito por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, capacitada a lidar e dar suporte ao sofrimento psíquico do trabalhador, e aos aspectos sociais e de intervenção nos ambientes de trabalho. As medidas de controle ambiental visam a eliminação ou redução dos níveis de exposição às substâncias químicas envolvidas na gênese da doença, através de:
A intervenção sobre as condições de trabalho se baseia na análise ergonômica do trabalho real ou da atividade, buscando conhecer, entre outros aspectos :
A participação dos
trabalhadores e dos níveis gerenciais é essencial para a implementação das
medidas corretivas e de promoção da saúde que envolvem modificações na
organização do trabalho. Praticas de promoção da saúde e de ambientes de
trabalho saudáveis devem incluir ações de educação e prevenção do abuso de
drogas, especialmente álcool. Feito o diagnóstico e confirmada a relação da doença com o trabalho deve ser realizado:
|
VI – OBSERVAÇÕES ADICIONAIS E LEITURAS RECOMENDADAS |
BERTOLOTE, J. M. (Org.) – Glossário de Termos de Psiquiatria e Saúde Mental da CID-10 e seus Derivados. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997. ILO –
Encyclopaedia of Occupational Health and Safety. 4th ed.
Geneva. ILO, 1998. KAPLAN, H. I.;
SADOCK, B. J. & GREBB, J. A – Compêndio de Psiquiatria. Porto
Alegre, Artes Médicas, 1997. LEVY, B. S. &
WEGMAN, D. H. – Occupational Health: Recognizing and Preventing
Work-Related Disease and Injury. 4th ed. Philadelphia.
Lippincott Williams & Wilkins, 2000. OMS –
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10:
Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organização
Mundial da Saúde; trad. Dorgival Caetano. Porto Alegre, Artes Médicas,
1997. REY, L. –
Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. Rio de Janeiro,
Guanabara Koogan. 1999. RIGOTTO, R.M. –
Aprendendo a desvelar a doença profissional: intoxicação por chumbo
inorgânico. In BUSCHINELLI, J.T.P.; ROCHA, L.E & RIGOTTO,
R.M.(Orgs.) – Isto é Trabalho de Gente? Petrópolis, Vozes, 1994,
p.376-97. SANDOVAL O. H. &
SALLATO, A. – Sistema Nervoso (Doenças Neurológicas e Comportamentais
Ocupacionais). In: MENDES, R. (Ed.) – Patologia do
Trabalho. Rio de Janeiro, Atheneu, 1995.
p.269-86. SELIGMANN-SILVA, E. - Psicopatologia e Psicodinâmica no Trabalho. In: MENDES, R. (Ed.) - Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro, Atheneu, 1995. p. 287-310. |
ALCOOLISMO CRÔNICO RELACIONADO COM O
TRABALHO CÓDIGO CID-10: F10.2 |
I - DEFINIÇÃO DA DOENÇA/DESCRIÇÃO |
Alcoolismo refere-se a um modo crônico e continuado de usar bebidas alcoólicas, caracterizado pelo descontrole periódico da ingestão ou por um padrão de consumo de álcool com episódios freqüentes de intoxicação e preocupação com o álcool e o seu uso, apesar das conseqüências adversas desse comportamento para a vida e saúde do usuário. Segundo a OMS a síndrome de dependência do álcool é um dos problemas relacionados ao álcool. A Sociedade Americana das Dependências, em 1990, considerou o alcoolismo como uma doença crônica primária, que tem seu desenvolvimento e manifestações influenciados por fatores genéticos, psicossociais e ambientais, freqüentemente progressiva e fatal. A perturbação do controle de ingestão de álcool caracteriza-se por ser contínua ou periódica, e por distorções do pensamento, caracteristicamente a negação, isto é, o bebedor alcoólico tende a não reconhecer que faz uso abusivo do álcool. O trabalho é considerado entre os fatores psicossociais de risco capazes de influenciar no desenvolvimento do quadro e nas suas manifestações. |
II
– EPIDEMIOLOGIA/FATORES DE RISCO DE NATUREZA
OCUPACIONAL CONHECIDOS |
O consumo coletivo de bebidas alcoólicas associado a situações de trabalho tem um aspecto de prática defensiva3, enquanto um meio de garantir pertencimento ao grupo. Também, pode ser uma forma de viabilizar o próprio trabalho, em decorrência dos efeitos farmacológicos próprios do álcool: calmante, euforizante, estimulante, relaxante, indutor do sono, anestésico e antisséptico. Entretanto, essas situações não são suficientes para caracterizar o uso patológico de bebidas alcoólicas. Uma freqüência maior
de casos (individuais) de alcoolismo tem sido observada em determinadas
ocupações, especialmente aquelas que se caracterizam por serem socialmente
desprestigiadas e mesmo determinantes de certa rejeição como as que
implicam contato com cadáveres, lixo ou dejetos em geral, apreensão e
sacrifício de cães; atividades em que a tensão é constante e
elevada como nas situações de trabalho perigoso (transportes
coletivos, estabelecimentos bancários, construção civil), de grande
densidade de atividade mental (repartições públicas,
estabelecimentos bancários e comerciais), de trabalho monótono, que
gera tédio, trabalhos em que a pessoa trabalha em isolamento do
convívio humano (vigias); situações de trabalho que envolvem
afastamento prolongado do lar (viagens freqüentes, plataformas
marítimas, zonas de mineração). As relações do alcoolismo crônico com o trabalho poderão ser classificadas através da CID-10, usando os seguintes códigos: “fatores que influenciam o estado de saúde: (...) riscos potenciais à saúde relacionados com circunstâncias sócio-econômicas e psicossociais” (Seção Z55-Z65 da CID-10) ou aos seguintes “fatores suplementares relacionados como as causas de morbidade e de mortalidade classificados em outra parte” (Seção Y90-Y98 da CID-10):
Portanto, havendo
evidências epidemiológicas de excesso de prevalência de alcoolismo
crônico em determinados grupos ocupacionais, sua ocorrência em
trabalhadores destes grupos ocupacionais poderá ser classificada como
“doença relacionada com o trabalho”, do Grupo II da Classificação de
Schilling. O trabalho pode ser considerado como fator de risco,
no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia multicausal do
alcoolismo crônico. Trata-se, portanto, de um nexo epidemiológico,
de natureza probabilística, principalmente quando as informações sobre as
condições de trabalho forem consistentes com as evidências
epidemiológicas e bibliográficas disponíveis. Em casos particulares de trabalhadores previamente alcoólicos, circunstâncias como as acima descritas pela CID-10 poderiam eventualmente desencadear, agravar ou contribuir para a recidiva da doença, o que levaria a enquadrá-la no Grupo III da Classificação de Schilling. |
III – QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO |
Os critérios diagnósticos podem ser adaptados daqueles previstos para a caracterização das demais síndromes de dependência, segundo os quais, três ou mais manifestações devem ter ocorrido, conjuntamente, por pelo menos um mês, ou se persistentes, por períodos menores do que um mês. As manifestações devem ocorrer juntas, de forma repetida durante um período de 12 meses, devendo ser explicitada a relação da ocorrência com a situação de trabalho:
O alcoolismo crônico, caracterizado acima como síndrome de dependência do álcool, está associado ao desenvolvimento de outros transtornos mentais a saber:
outros transtornos relacionados ao álcool4: transtorno do humor induzido pelo álcool; transtorno de ansiedade induzido pelo álcool; disfunção sexual induzida pelo álcool; transtorno do sono induzido pelo álcool. |
IV – TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS |
O tratamento do alcoolismo crônico envolve múltiplas estratégias terapêuticas que implicam, muitas vezes, em mudanças na situação de trabalho. O prognóstico difícil pode desanimar as equipes de saúde com relação ao tratamento dos alcoólatras. Apesar de alguns clínicos e grupos proporem a opção de “beber controlado”, a maioria dos especialistas e dos estudos indicam que a abstinência completa de álcool é a pedra angular do tratamento. A maioria das pessoas com transtornos relacionados ao álcool busca tratamento pressionada por alguém da família (a esposa, geralmente) ou por um empregador, chefe ou amigo. Os pacientes que são persuadidos, encorajados ou mesmo coagidos ao tratamento por pessoas significativas para eles estão mais aptos a permanecer em tratamento e têm um prognóstico melhor do que os não pressionados. O melhor prognóstico está associado à busca voluntária de um profissional de saúde mental em virtude da pessoa ter concluído que é alcoólatra e que necessita de ajuda. Assim, a disponibilidade dos profissionais e dos serviços de saúde para atender os trabalhadores alcoólatras é uma das primeiras estratégias do tratamento. As estratégias de tratamento do alcoolismo crônico incluem:
|
V – PREVENÇÃO |
Ações de prevenção do Alcoolismo que se limitam à realização de realizar cursos e palestras com a finalidade de procurar transmitir conhecimentos científicos e aconselhamento sobre as ações prejudiciais do álcool sobre o organismo são freqüentemente inócuos. De modo geral, só alcançam resultados positivos os programas que identificam, nas situações de trabalho e do cotidiano da vida, os aspectos organizacionais5 e ambientais relacionados ao “risco alcoólico”, procurando implementar ações para transformá-los, como por exemplo:
Feito o diagnóstico e confirmada a relação da doença com o trabalho deve ser realizado:
|
VI – OBSERVAÇÕES ADICIONAIS E LEITURAS RECOMENDADAS |
ANDRÉ, L.M. – Heróis da lama: sobrecarga emocional e estratégias defensivas no trabalho de limpeza pública. São Paulo, 1994. [Dissertação de Mestrado, Faculdade de Saúde Pública da USP]. BERTOLOTE, J. M.
(Org.) – Glossário de Termos de Psiquiatria e Saúde Mental da CID-10 e
seus Derivados. Porto Alegre, Artes Médicas,
1997. FERREIRA Jr., Y.M. -
Alcoolismo e trabalho. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional,
18(70): 50-2, 1990. KAPLAN, H. I.;
SADOCK, B. J. & GREBB, J. A – Compêndio de Psiquiatria. Porto
Alegre, Artes Médicas, 1997. LIMA, C.T.S. –
Alcoolismo e doenças associadas. Um estudo de coorte em trabalhadores
de uma refinaria de petróleo. Salvador, 1995. [Dissertação de
Mestrado, Faculdade de Medicina da UFBa]. OMS –
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10:
Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organização
Mundial da Saúde; trad. Dorgival Caetano. Porto Alegre, Artes Médicas,
1997. REY, L. –
Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. Rio de Janeiro,
Guanabara Koogan. 1999. SELIGMANN-SILVA, E. - Psicopatologia e Psicodinâmica no Trabalho. In: MENDES, R. (Ed.) - Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro, Atheneu, 1995. p. 287-310. |
EPISÓDIOS DEPRESSIVOS RELACIONADOS COM O
TRABALHO CÓDIGO CID-10: F32. - |
I - DEFINIÇÃO DA DOENÇA/DESCRIÇÃO |
Os Episódios depressivos caracterizam-se por humor triste, perda do interesse e prazer nas atividades cotidianas, sendo comum uma sensação de fadiga aumentada. O paciente pode se queixar de dificuldade de concentrar-se, pode apresentar baixa auto-estima e auto-confiança, desesperança e idéias de culpa e inutilidade; visões desoladas e pessimistas do futuro, idéias ou atos suicidas. O sono encontra-se freqüentemente perturbado, geralmente por insônia terminal. O paciente se queixa de diminuição do apetite geralmente com perda de peso sensível. Sintomas de ansiedade são muito freqüentes. A angústia tende a ser tipicamente mais intensa pela manhã que à tarde. As alterações da psicomotricidade podem variar da lentificação à agitação. Pode haver lentificação do pensamento. Os episódios depressivos devem ser classificados nas modalidades: leve, moderada, grave sem sintomas psicóticos, grave com sintomas psicóticos. |
II
– EPIDEMIOLOGIA/FATORES DE RISCO DE NATUREZA
OCUPACIONAL CONHECIDOS |
A relação dos Episódios depressivos com o trabalho pode ser sutil. As decepções sucessivas em situações de trabalho frustrantes, as perdas acumuladas ao longo dos anos de trabalho, as exigências excessivas de desempenho cada vez maior, no trabalho, geradas pelo excesso de competição, implicando em ameaça permanente de perda do lugar que o trabalhador ocupa na hierarquia da empresa, perda efetiva do lugar que ocupa, do posto de trabalho no caso de demissão podem determinar depressões mais ou menos graves ou protraídas. A situação de desemprego prolongado tem estado associada ao desenvolvimento de episódios depressivos em vários estudos em diferentes países. Alguns estudos comparativos controlados têm mostrado prevalências maiores de depressão em digitadores, operadores de computadores, datilógrafas, advogados, educadores especiais e consultores. Episódios depressivos também estão associados à exposição ocupacional às seguintes substâncias químicas tóxicas:
Em trabalhadores expostos a estas substâncias químicas neurotóxicas, entre outras, o diagnóstico de episódios depressivos, excluídas outras causas não ocupacionais, pode ser enquadrado no Grupo I da Classificação de Schilling, em que o trabalho é considerado causa necessária. A sintomatologia depressiva nestes casos geralmente não constitui o quadro primário, estando geralmente associada aos transtornos mentais orgânicos induzidos por essas substâncias como a demência, o delirium, o transtorno cognitivo leve, o transtorno orgânico de personalidade ou o transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado conforme descritos nos itens específicos. Assim, sempre que ficar caracterizada uma síndrome depressiva e houver história ocupacional de exposição a substâncias tóxicas, deve-se investigar a coexistência de um transtorno mental orgânico, ou seja, indicativo de disfunção ou lesão cerebral. |
III – QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO |
O diagnóstico de Episódio depressivo requer a presença de pelo menos cinco dos sintomas abaixo por um período de pelo menos duas semanas sendo que pelo menos um dos sintomas é humor triste ou diminuição do interesse ou prazer:
|
IV – TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS |
A prescrição dos recursos terapêuticos disponíveis depende da gravidade e da especificidade de cada caso, entretanto, é consenso em psiquiatria que o tratamento de Episódios depressivos envolva:
Ë muito importante que o médico clínico ou psiquiatra juntamente com a equipe de saúde responsável pelo paciente estejam capacitados a :
|
V – PREVENÇÃO |
A prevenção dos “Episódios Depressivos relacionados com o trabalho” consiste, basicamente, da vigilância dos ambientes e condições de trabalho e vigilância dos efeitos ou danos à saúde, conforme descrito na Introdução deste capítulo. Requer uma ação
integrada, articulada entre os setores assistenciais e da vigilância sendo
desejável que o atendimento seja feito por uma equipe multiprofissional,
com abordagem interdisciplinar, capacitada a lidar e dar suporte ao
sofrimento psíquico do trabalhador, e aos aspectos sociais e de
intervenção nos ambientes de trabalho. As medidas de controle ambiental visam a eliminação ou redução da exposição a substâncias químicas envolvidas na gênese da doença, através de:
A intervenção sobre as condições de trabalho se baseia na análise ergonômica do trabalho real ou da atividade, buscando conhecer, entre outros fatores:
A tristeza como a
alegria são afetos. Portanto, estão presentes em todos os relacionamentos
humanos incluindo os relacionamentos no trabalho e com o trabalho.
Sentimo-nos tristes quando frustrados em nossas aspirações mas
especialmente quando perdemos algo ou alguém que nos é muito querido. A
tristeza que se sente com as perdas pode caracterizar um estado de luto
que é normal ou pode evoluir para um estado depressivo (melancólico). O
episódio depressivo relacionado ao trabalho caracteriza-se pelo fato da
perda estar no trabalho: perda do emprego, perda de posição na hierarquia,
frustração de aspirações relacionadas ao trabalho e à carreira, lembrando
que a inserção pelo trabalho é uma dimensão humana fundamental na nossa
sociedade. A prevenção das depressões relacionadas ao trabalho é,
portanto, também de ordem ética. Depende da ordem econômica e da justiça
nas relações de trabalho, tanto em nível macro quanto micro-social. O
exemplo clássico da relação entre depressão de ordem econômica é o do
desemprego de longa duração. Feito o diagnóstico e confirmada a relação da doença com o trabalho deve ser realizado:
|
VI – OBSERVAÇÕES ADICIONAIS E LEITURAS RECOMENDADAS |
BERTOLOTE, J. M. (Org.) – Glossário de Termos de Psiquiatria e Saúde Mental da CID-10 e seus Derivados. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997. JARDIM, S. – Perícia,
Trabalho e Doença Mental. In Cadernos do IPUB, No.2, 3ª
edição ampliada, 1997, p. 95 –102. JARDIM, S. – O
Trabalho e a Construção do Sujeito. In SILVA FILHO, J.F. (Org) –
A Danação do Trabalho, Rio de Janeiro, Te Corá, 1997,
p.79-87. KAPLAN, H. I.;
SADOCK, B. J. & GREBB, J. A – Compêndio de Psiquiatria. Porto
Alegre, Artes Médicas, 1997. NEVES, M.Y.R. –
Resenha “Um estudo de coorte de desemprego como causa de distúrbios
psicológicos da juventude australiana” apud MORREL, S., TAYLOR, R.,
QUINE, S., KERR, C., WESTERN, J.. J. Bras. Psiq.,
45(8):505-10, 1996. OMS –
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10:
Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organização
Mundial da Saúde; trad. Dorgival Caetano. Porto Alegre, Artes Médicas,
1997. REY, L. –
Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. Rio de Janeiro,
Guanabara Koogan. 1999. SELIGMANN-SILVA, E. –
A Interface Desemprego Prolongado e Saúde Psicossocial. In SILVA
FILHO, J.F. (Org) – A Danação do Trabalho, Rio de Janeiro, Te Corá,
1997, p. 19-63. SELIGMANN-SILVA, E. - Psicopatologia e Psicodinâmica no Trabalho. In: MENDES, R. (Ed.) - Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro, Atheneu, 1995. p. 287-310. |
TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO RELACIONADO COM O
TRABALHO CÓDIGO CID-10: F43.1 |
I - DEFINIÇÃO DA DOENÇA/DESCRIÇÃO |
O Transtorno de estresse pós traumático caracteriza-se como uma resposta tardia e/ou protraída a um evento ou situação estressante (de curta ou longa duração) de natureza excepcionalmente ameaçadora ou catastrófica, a qual reconhecidamente causaria extrema angústia em qualquer pessoa, como por exemplo os desastres naturais ou produzidos pelo homem, acidentes graves, testemunhar a morte violenta de outra pessoa, ser vítima de tortura, estupro, terrorismo ou outro crime. A pessoa experimentou, testemunhou ou foi confrontada com um evento ou eventos que implicaram morte ou ameaça de morte ou de lesão grave, ou ameaça da integridade física do paciente ou de outros. Fatores predisponentes, tais como traços de personalidade ou história prévia de doença neurótica, podem baixar o limiar para o desenvolvimento da síndrome ou agravar seu curso, mas não são necessários nem suficientes para explicar sua ocorrência. |
II
– EPIDEMIOLOGIA/FATORES DE RISCO DE NATUREZA
OCUPACIONAL CONHECIDOS |
A prevalência estimada do Transtorno de estresse pós-traumático na população geral é de 1 a 3%. Nos grupos de risco (p. ex., combatentes) as taxas de prevalência variam de 5 a 75%. Não estão disponíveis dados epidemiológicos referentes às ocupações e profissões que representam risco para eventos suficientemente ameaçadores para desencadear o transtorno. Existem estudos restritos a pequenos grupos e relatos de casos. O risco de desenvolvimento do Transtorno de estresse pós-traumático relacionado ao trabalho parece estar relacionado a trabalhos perigosos, que envolvem responsabilidade com vidas humanas, com risco de grandes acidentes como o trabalho nos sistemas de transporte ferroviário, metroviário e aéreo, o trabalho dos bombeiros, etc. É mais comum em adultos jovens mas pode surgir em qualquer idade devido à natureza das situações desencadeadoras. O transtorno acomete mais solteiros, divorciados, viúvos e pessoas prejudicadas social ou economicamente. De acordo com a CID-10, a relação entre o Transtorno de estresse pós-traumático crônico com o trabalho poderá estar vinculada a “fatores que influenciam o estado de saúde: (...) riscos potenciais à saúde relacionados com circunstâncias sócio-econômicas e psicossociais” (Seção Z55-Z65 da CID-10) ou aos “fatores suplementares relacionados como as causas de morbidade e de mortalidade classificados em outra parte” (Seção Y90-Y98 da CID-10):
Em trabalhadores que sofreram situações descritas no conceito da doença, em circunstâncias de trabalho, o diagnóstico de Transtorno de estresse pós-traumático, excluídas outras causas não ocupacionais, pode ser enquadrado no Grupo I da Classificação de Schilling, em que o trabalho é considerado causa necessária. |
III – QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO |
O quadro típico do Transtorno de estresse pós-traumático inclui episódios de repetidas revivescências do trauma sob a forma de memórias que se impõem à consciência clara ou em sonhos (pesadelos). O paciente apresenta uma sensação persistente de entorpecimento ou embotamento emocional, diminuição do envolvimento ou da reação ao mundo que o cerca, anedonia e evitação de atividades e situações que lembram a situação traumática. Podem ocorrer episódios dramáticos e agudos de medo, pânico ou agressividade, desencadeados por estímulos que despertam uma recordação e/ou revivescência súbita do trauma ou da reação original a ele. Usualmente observa-se um estado de excitação autonômica aumentada com hipervigilância, reações aos estímulos exacerbadas e insônia. Podem ainda apresentar sintomas ansiosos e depressivos, podendo existir ideação suicida. O abuso de álcool e outras drogas pode ser um fator complicador. O início do quadro
segue ao trauma, com um período de latência que pode variar de poucas
semanas a meses (raramente excede 6 meses). O curso é flutuante, mas a
recuperação pode ser esperada na maioria dos casos. Em uma pequena
proporção dos pacientes a condição pode evoluir cronicamente por muitos
anos, transformando-se em uma alteração permanente da
personalidade. O diagnóstico de Transtorno de estresse pós-traumático pode ser feito em pacientes que apresentem quadros de início em um período de até 6 meses após um evento ou período de estresse traumático(*) caraterizados por:
(*) Nota: Pode-se realizar um diagnóstico “provável” se a latência entre o evento e o início da sintomatologia for maior do que 6 meses. A literatura especializada informa que a latência pode ser de uma semana ou de 30 anos. |
IV – TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS |
O tratamento do Transtorno de estresse pós-traumático envolve:
|
V – PREVENÇÃO |
A prevenção do “Transtorno de estresse pós-traumático relacionado com o trabalho” envolve uma complexa rede de medidas de prevenção de acidentes, segurança e promoção de condições no trabalho, incluindo condições organizacionais do trabalho que respeitem a subjetividade dos trabalhadores. Requer uma ação integrada, articulada entre os setores assistenciais e da vigilância sendo desejável que o atendimento seja feito por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, capacitada a lidar e dar suporte ao sofrimento psíquico do trabalhador, e aos aspectos sociais e de intervenção nos ambientes de trabalho. A intervenção sobre as condições de trabalho se baseia na análise ergonômica do trabalho real ou da atividade, buscando conhecer, entre outros fatores:
Feito o diagnóstico e confirmada a relação da doença com o trabalho deve ser realizado:
A ocorrência de um caso de Transtorno de estresse pós-traumático relacionado ao trabalho deve ser abordado como “evento sentinela” e indicar investigação do posto de trabalho e intervenções psicossociais de suporte ao grupo de trabalhadores de onde o acometido proveio. |
VI – OBSERVAÇÕES ADICIONAIS E LEITURAS RECOMENDADAS |
BERTOLOTE, J. M. (Org.) – Glossário de Termos de Psiquiatria e Saúde Mental da CID-10 e seus Derivados. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997. JARDIM, S. – Processo
de Trabalho e Sofrimento Psíquico: o caso dos pilotos do Metrô do Rio de
Janeiro I. J. Bras. Psiq., 45(5):265-84, 1996.
JARDIM, S. – Processo
de Trabalho e Sofrimento Psíquico: o caso dos pilotos do Metrô do Rio de
Janeiro II. J. Bras. Psiq., 45(6):323-33, 1996.
KAPLAN, H. I.;
SADOCK, B. J. & GREBB, J. A – Compêndio de Psiquiatria. Porto
Alegre, Artes Médicas, 1997. OMS –
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10:
Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organização
Mundial da Saúde; trad. Dorgival Caetano. Porto Alegre, Artes Médicas,
1997. REY, L. –
Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. Rio de Janeiro,
Guanabara Koogan. 1999. SELIGMANN-SILVA, E. - Psicopatologia e Psicodinâmica no Trabalho. In: MENDES, R. (Ed.) - Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro, Atheneu, 1995. p. 287-310. |
SÍNDROME DE FADIGA RELACIONADA COM O TRABALHO
(incluída em
“Neurastenia”) CÓDIGO CID-10: F48.0 |
I – DEFINIÇÃO DA DOENÇA/DESCRIÇÃO |
A característica mais marcante da Síndrome de fadiga relacionada com o trabalho* é a presença de fadiga constante, acumulada ao longo de meses ou anos em situações de trabalho onde não há oportunidade de obter descanso necessário e suficiente. A fadiga é referida pelo paciente como sendo constante, como “acordar cansado”, simultaneamente mental e física, caracterizando uma fadiga geral. Outras manifestações importantes são: a má qualidade do sono (dificuldade de aprofundar o sono, despertares freqüentes durante a noite, especificamente a insônia inicial, “dificuldade para adormecer ou “a cabeça não consegue desligar”; a irritabilidade, ou “falta de paciência”; e o desânimo. Outros sintomas que podem fazer parte da síndrome são: dores de cabeça, dores musculares (geralmente nos músculos mais utilizados no trabalho), perda do apetite e mal-estar geral. Trata-se, em geral, de um Quadro crônico. (*) Esta categoria deve incluir a “Síndrome de fadiga crônica”; a chamada “Síndrome de fadiga industrial” considerada como decorrente da monotonia do trabalho repetitivo dos trabalhadores industriais; e a “Síndrome de fadiga patológica” associada ao trabalho em Serviços. |
II
– EPIDEMIOLOGIA/FATORES DE RISCO DE NATUREZA
OCUPACIONAL CONHECIDOS |
As queixas de fadiga são
extremamente freqüentes entre trabalhadores ocupados. Os fatores de risco
de natureza ocupacional que parecem contribuir para o surgimento de um
quadro de fadiga patológica são: ritmos de trabalho acelerados, sem pausas
ou com pausas sem as devidas condições para repousar e relaxar; as
jornadas de trabalho prolongadas (excesso de horas extras, tempo de
transporte de casa para o trabalho e do trabalho para casa muito longo,
dupla jornada de trabalho para complementar a renda familiar); e a jornada
de trabalho em turnos alternados. A fadiga patológica parece ser
decorrente da interação de diversos desses fatores entre si, ao longo de
meses ou anos. Estas manifestações, também, têm sido associadas à exposição ocupacional a algumas substâncias químicas, entre elas:
Em trabalhadores expostos às situações de trabalho descritas acima, o diagnóstico da Síndrome de fadiga pode ser incluído no Grupo I da Classificação de Schilling, ou seja, o trabalho é considerado causa necessária. |
III – QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO |
O diagnóstico de Síndrome de fadiga relacionada com o trabalho é feito a partir da anamnese ocupacional e da história de trabalho bem feitas. Deve-se perguntar pela duração da jornada de trabalho, as condições de trabalho incluindo as condições para descanso durante a jornada, o ritmo de trabalho, as condições de processo trabalho (presença de ruído e outros agressores), a pressão no trabalho, as condições de vida e habitacionais, visando avaliar as condições de descanso e lazer do trabalhador. Não esquecer que a Síndrome de fadiga relacionada com o trabalho pode ser encontrada em trabalhadores desempregados pois pode ter sido adquirida durante o trabalho anterior. O diagnóstico definitivo baseia-se nos seguintes critérios:
O diagnóstico diferencial da Síndrome de fadiga relacionada com o trabalho baseia-se na anamnese, e deve ser feito com:
|
IV – TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS |
Pode estar indicada a prescrição de ansiolíticos/hipnóticos (os benzodiazepínicos), visando controlar ou moderar os sintomas mais proeminentes como a insônia e a irritabilidade, atentando sempre para o risco de desenvolvimento de tolerância e dependência desses psicotrópicos. Deve-se ter como objetivo uma mudança nas condições de trabalho (objetivas, da organização do trabalho e subjetivas), às quais o trabalhador adoecido está submetido. A psicoterapia, visando abordar a posição subjetiva em relação ao trabalho, pode ser útil. |
V – PREVENÇÃO |
A prevenção da “Síndrome de Fadiga relacionada ao trabalho” consiste na vigilância dos ambientes e condições de trabalho e vigilância dos efeitos ou danos à saúde, conforme descrito na Introdução deste capítulo. Requer uma ação integrada, articulada entre os setores assistenciais e da vigilância sendo desejável que o atendimento seja feito por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, capacitada a lidar e dar suporte ao sofrimento psíquico do trabalhador, e aos aspectos sociais e de intervenção nos ambientes de trabalho. As medidas de controle ambiental visam a eliminação ou redução dos fatores de risco responsáveis pela gênese da doença, presentes no trabalho, através de:
As intervenção necessárias às melhoria das condições de trabalho baseiam-se na análise ergonômica do trabalho real ou da atividade, buscando conhecer, entre outros fatores:
A participação dos
trabalhadores e a sensibilização dos níveis gerenciais são essenciais para
a implementação das medidas corretivas e de promoção da saúde que envolvem
modificações na organização do trabalho que corrijam as causas do
“excesso” de trabalho(excesso de trabalho, ritmo excessivo, falta de
pausas, etc.) e viabilizem a reabilitação psicossocial e/ou profissional
do trabalhador, quando necessário. Feito o diagnóstico e confirmada a relação da doença com o trabalho deve ser realizado:
A ocorrência de um caso de Síndrome de Fadiga Relacionada com o Trabalho deve ser considerada como “evento sentinela”, orientando a investigação do posto de trabalho e intervenções psicossociais de suporte ao grupo de trabalhadores de onde o acometido proveio. |
VI – OBSERVAÇÕES ADICIONAIS E LEITURAS RECOMENDADAS |
BERTOLOTE, J. M. (Org.) – Glossário de Termos de Psiquiatria e Saúde Mental da CID-10 e seus Derivados. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997. KAPLAN, H. I.;
SADOCK, B. J. & GREBB, J. A – Compêndio de Psiquiatria. Porto
Alegre, Artes Médicas, 1997. OMS –
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10:
Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organização
Mundial da Saúde; trad. Dorgival Caetano. Porto Alegre, Artes Médicas,
1997. REY, L. –
Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. Rio de Janeiro,
Guanabara Koogan. 1999. SELIGMANN-SILVA, E. – Psicopatologia e Psicodinâmica no Trabalho. In: MENDES, R. (Ed.) - Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro, Atheneu, 1995. p. 287-310. |
NEUROSE PROFISSIONAL
(incluída em
Outros Transtornos Neuróticos Especificados) CÓDIGO CID-10: F48.8 |
I - DEFINIÇÃO DA DOENÇA/DESCRIÇÃO |
O grupo Outros transtornos neuróticos especificados inclui transtornos mistos de comportamento, crenças e emoções que têm uma associação estreita com uma determinada cultura. Segundo a CID-10, a “neurose ocupacional”, que inclui a “cãimbra de escrivão”6 está incluída neste grupo. A categoria
Neurose profissional é definida por Aubert (1993) como “uma afecção
psicógena persistente na qual os sintomas são expressão simbólica de um
conflito psíquico cujo desenvolvimento se encontra vinculado a uma
determinada situação organizacional ou profissional”.
A Neurose profissional apresenta três formas clínicas:
A categoria Neurose profissional inclui os quadros psiquiátricos relacionados ao trabalho nos quais, aspectos subjetivos e as características pessoais aliadas às condições organizacionais do trabalho determinam sofrimento psíquico. Geralmente são quadros de evolução crônica que tendem a se definir como um padrão de comportamento. A organização do trabalho desempenha papel determinante no desenvolvimento desses padrões de comportamento ao incentivar e explorar essas características pessoais |
II
– EPIDEMIOLOGIA/FATORES DE RISCO DE NATUREZA
OCUPACIONAL CONHECIDOS |
Segundo a CID-10 (Seção Z55-Z65), a relação dos quadros enfeixados no grupo da Neurose Profissional, como acima conceituada, com o trabalho poderá estar vinculada a circunstâncias sócio-econômicas e psicossociais, entre elas: Problemas relacionados com o emprego e com o desemprego (Z56.-);
Assim, havendo
evidências epidemiológicas de excesso de prevalência destes
transtornos, em determinados grupos ocupacionais, sua ocorrência poderá
ser classificada como “doença relacionada com o trabalho”, do Grupo II
da Classificação de Schilling, em que o trabalho pode ser considerado
como fator de risco, no conjunto de fatores de risco associados com
a etiologia multicausal da doença. No estágio atual do
conhecimento, trata-se de um nexo epidemiológico, de natureza
probabilística, principalmente quando as informações sobre as condições de
trabalho, adequadamente investigadas forem consistentes com as evidências
epidemiológicas e bibliográficas disponíveis. Em alguns casos, as circunstâncias em que o trabalho é realizado poderiam desencadear ou contribuir para a recidiva da doença, o que levaria a enquadrá-la no Grupo III da Classificação de Schilling. |
III – QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO |
Os transtornos denominados de culturais têm diversas características, mas compartilham dois aspectos principais:
As chamadas
Neuroses profissionais têm sido classificadas nesse grupo de
transtornos pois não dispõem de critérios diagnósticos estabelecidos em
outra classificação e os sintomas apresentados são inespecíficos: cansaço,
desinteresse, irritabilidade, alterações do sono (insônia ou sonolência
excessiva), etc. Muitas vezes, é a inibição para o trabalho que surge como
primeiro sintoma indicando a presença de uma neurose profissional: a
pessoa que antes trabalhava bem disposta e com dedicação não consegue mais
trabalhar; sente-se cansada mas não consegue explicar os motivos exatos. A
anamnese, incluindo a anamnese ocupacional, e o exame físico não revelam
determinantes somáticos para o quadro. O diagnóstico é estabelecido a partir das queixas mencionadas, da história de trabalho e da análise da situação de trabalho atual. Por exemplo, na Neurose de excelência, os valores pessoais caracterizados pelo alto nível de exigência são determinantes que se articulam com a cultura organizacional em que a “excelência” é imperativa. |
IV – TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS |
Quando os sintomas comprometem a vida do trabalhador, a psicoterapia individual é o tratamento mais indicado para a Neurose profissional. Cabe lembrar que a indicação de psicoterapia passa pela implicação subjetiva de quem se submete a esse tratamento. A indicação de psicoterapia deve ser feita com delicadeza. |
V – PREVENÇÃO |
A prevenção das Neuroses profissionais relacionadas ao trabalho envolve mudanças na cultura da organização do trabalho como o estabelecimento de restrições à exploração do desempenho individual, procurando metas coletivas que incluam o bem-estar de cada um. Requer uma ação integrada, articulada entre os setores assistenciais e da vigilância sendo desejável que o atendimento seja feito por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, capacitada a lidar e dar suporte ao sofrimento psíquico do trabalhador, e aos aspectos sociais e de intervenção nos ambientes de trabalho. A intervenção sobre as condições de trabalho se baseia na análise ergonômica do trabalho real ou da atividade, buscando conhecer, entre outros fatores:
A participação dos
trabalhadores e dos níveis gerenciais é essencial para a implementação das
medidas corretivas e de promoção da saúde que envolvem modificações na
organização do trabalho. Feito o diagnóstico e confirmada a relação da doença com o trabalho deve ser realizado:
O diagnóstico de um caso de Neurose profissional deve ser abordado como “evento sentinela” e indicar investigação da situação de trabalho, visando avaliar o papel da organização do trabalho na determinação do quadro sintomatológico. Podem estar indicadas intervenções psicossociais de suporte ao grupo de trabalhadores de onde o acometido proveio. |
VI – OBSERVAÇÕES ADICIONAIS E LEITURAS RECOMENDADAS |
BERTOLOTE, J. M. (Org.) – Glossário de Termos de Psiquiatria e Saúde Mental da CID-10 e seus Derivados. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997. KAPLAN, H. I.;
SADOCK, B. J. & GREBB, J. A – Compêndio de Psiquiatria. Porto
Alegre, Artes Médicas, 1997. OMS –
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10:
Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organização
Mundial da Saúde; trad. Dorgival Caetano. Porto Alegre, Artes Médicas,
1997. REY, L. –
Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. Rio de Janeiro,
Guanabara Koogan. 1999. SELIGMANN-SILVA, E. – Psicopatologia e Psicodinâmica no Trabalho. In: MENDES, R. (Ed.) - Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro, Atheneu, 1995. p. 287-310. |
TRANSTORNO DO CICLO SONO-VIGÍLIA RELACIONADO COM O TRABALHO
(incluído em
Transtornos do ciclo sono-vigília devidos a fatores não orgânicos
) CÓDIGO CID-10: F51.2 |
I - DEFINIÇÃO DA DOENÇA/DESCRIÇÃO |
O Transtorno do ciclo sono-vigília devido a fatores não orgânicos é definido como uma perda de sincronia entre o ciclo sono-vigília do indivíduo e o ciclo sono-vigília socialmente estabelecido como normal, resultando em queixas de insônias, interrupção precoce do sono ou de sonolência excessiva. Esses transtornos podem ser psicogênicos ou de origem orgânica presumida, dependendo da contribuição relativa de fatores psicológicos, psicossociais ou orgânicos. O Transtorno do
ciclo sono-vigília relacionado ao trabalho pode ser incluído nesta
categoria uma vez que por definição é determinado pela jornada de trabalho
à noite em regime fixo ou pela alternância de horários diurnos,
vespertinos e/ou noturnos, em regime de revezamento de turnos.
O trabalho em turnos é uma forma de organização do trabalho na qual equipes de trabalhadores se revezam para garantir a realização de uma mesma atividade num esquema de horários que diferem sensivelmente da jornada de trabalho “normal” da média da população. Considera-se jornada de trabalho normal diurna, a divisão do tempo de trabalho no horário entre 6 e 18 horas, com base na semana de seis dias e nas quarenta e quatro horas semanais. No trabalho em turnos, os trabalhadores exercem suas atividades modificando seus horários de trabalho durante a semana, mês (turnos alternantes) ou permanecem em horários fixos matutinos, vespertinos ou noturnos; também são considerados os esquemas de trabalho em turnos em horários irregulares de entrada e saída no trabalho, a cada dia, semana ou mês. |
II
– EPIDEMIOLOGIA/FATORES DE RISCO DE NATUREZA
OCUPACIONAL CONHECIDOS |
A relação do “transtorno do ciclo sono-vigília devido a fatores não orgânicos”, como acima conceituado, com o trabalho, poderá estar vinculada aos seguintes “fatores que influenciam o estado de saúde: (...) riscos potenciais à saúde relacionados com circunstâncias sócio-econômicas e psicossociais” (Seção Z55-Z65 da CID-10) ou aos seguintes “fatores suplementares relacionados com as causas de morbidade e de mortalidade classificados em outra parte” (Seção Y90-Y98 da CID-10):
Em trabalhadores que
exercem suas atividades em turnos alternantes e/ou em trabalho noturno,
com dificuldades de adaptação, o diagnóstico de transtorno do ciclo
sono-vigília relacionado com o trabalho, excluídas outras causas
não ocupacionais, pode ser enquadrado no Grupo I da Classificação
de Schilling, em que o trabalho é considerado causa necessária.
Em casos particulares de trabalhadores previamente lábeis ou hipersuscetíveis, circunstâncias como as acima descritas pela CID-10 poderiam eventualmente desencadear, agravar, ou contribuir para a recidiva da doença, o que levaria a enquadrá-la no Grupo III da Classificação de Schilling. |
III – QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO |
Em função dos horários de trabalho em turnos e noturno podem ocorrer tanto adiantamento quanto atraso de fases do ciclo sono-vigília. Estes fatos podem ser decorrentes de conflitos entre os sincronizadores temporais externos (horários de trabalho e de outras atividades sociais, por exemplo) e os osciladores biológicos internos, estes últimos responsáveis pela regulação dos ritmos biológicos. Os trabalhadores que apresentam uma ou mais das seguintes queixas: dificuldades para adormecer, interrupções freqüentes no sono, sonolência excessiva durante a vigília e percepção de sono de má qualidade, devem ser submetidos a exame diagnóstico diferencial (polissonografia) para confirmar ausência de distúrbios de sono não relacionados com a organização do trabalho. Este código (F51.2) é
reservado para os transtornos do ciclo sono-vigília nos quais os
fatores psicológicos desempenham o papel mais importante. Os
casos de origem orgânica presumida devem ser classificados no grupo
G47.2, como transtornos não psicogênicos do ciclo sono-vigília.
Assim, o julgamento quanto se os fatores psicológicos são ou não de
importância primária, cabe ao clínico em cada caso. Os seguintes aspectos clínicos são essenciais para um diagnóstico definitivo:
Observação: A presença de sintomas psiquiátricos, tais como a ansiedade, depressão, ou hipomania não invalida o diagnóstico de um transtorno não orgânico do ciclo sono-vigília, desde que esse transtorno seja predominante no quadro clínico do paciente. |
IV – TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS |
São indicados ambientes de repouso intra-jornadas que permitam aos trabalhadores em turnos a prática de cochilos durante as pausas. Em casos graves, recomenda-se a mudança dos horários de trabalho. Sugere-se que o
trabalhador evite o consumo de substâncias com cafeína em sua composição
cerca de 6 horas antes de iniciar o período de sono. A prática de
exercícios físicos regulares, não exaustivos, deve ser encorajada.
Entretanto, estes não devem ser realizados em horários próximos ao início
do sono. A ingestão de alimentos contendo altos teores de lipídios deve ser evitada, principalmente durante a madrugada. |
O início do sono diurno após o trabalho noturno deve ser, na medida do possível, postergado. Quanto menor for o
número de horas entre o fim do sono e o início do trabalho, tanto menor
será a sonolência durante o trabalho noturno. O uso de medicamentos
indutores de sono não é recomendado. Trabalhadores em turnos e trabalhadores noturnos estão sujeitos a sofrerem maiores riscos de doenças cardiovasculares, gastrointestinais e transtornos mentais. Portanto, os transtornos do ciclo sono-vigília podem ser acompanhados de outros efeitos à saúde. Torna-se imperativo observar se tais efeitos impossibilitam o trabalhador continuar em sua vida ativa de trabalho ou, na impossibilidade de transferir-se para trabalho diurno, ter direito a aposentadoria especial |
V – PREVENÇÃO |
A prevenção do Transtorno do ciclo sono-vigília relacionado ao trabalho implica em organizar o trabalho de modo a que o sistema de turnos seja utilizado o mínimo possível. Ou seja, a dimensão econômica do trabalho em turnos deve ser avaliada como tendo conseqüências para a saúde dos trabalhadores. O sistema de turnos deve prever um maior número de horas de descanso para os trabalhadores se recuperarem do cansaço. Feito o diagnóstico de um transtorno do ciclo sono-vigília relacionado ao trabalho, cabe:
A prevenção desses
agravos requer uma ação integrada, articulada entre os setores
assistenciais e os de vigilância, de modo a garantir que paciente seja
cuidado por uma equipe multiprofissional, com abordagem
interdisciplinar, que dê conta dos aspectos de suporte ao sofrimento
psíquico do trabalhador, quanto dos aspectos sociais e de intervenção nos
ambientes de trabalho. A participação dos
trabalhadores e a sensibilização dos níveis gerenciais são essenciais para
a implementação das medidas que envolvem modificações na organização do
trabalho. Práticas de promoção da saúde e de ambientes de trabalho
saudáveis devem incluir ações de educação e discussões acerca da
organização dos sistemas de trabalho a fim de implementar melhorias nos
esquemas de turnos. Devem ser aplicadas prioritariamente mudanças
organizacionais para reduzir o número de turnos noturnos e/ou o número de
dias de trabalho em horários irregulares, e o número de pessoas expostas
aos conflitos dos sincronizadores biológicos e sociais.
O diagnóstico de um caso de Transtorno do ciclo sono-vigília relacionado ao trabalho deve ser abordado como “evento sentinela” e indicar investigação da situação de trabalho, visando avaliar o papel da organização do trabalho na determinação do quadro sintomatológico. Podem estar indicadas intervenções no sistema de turnos assim como medidas de suporte ao grupo de trabalhadores de onde o acometido proveio |
VI – OBSERVAÇÕES ADICIONAIS E LEITURAS RECOMENDADAS |
BERTOLOTE, J. M. (Org.) – Glossário de Termos de Psiquiatria e Saúde Mental da CID-10 e seus Derivados. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997. FISCHER, F.M.;
LIEBER, R.R. & BROWN, F.M. - Trabalho em Turnos e as Relações com a
Saúde-Doença. In: MENDES, R. (Ed.) - Patologia do Trabalho.
Rio de Janeiro, Atheneu, 1995. p.545-72. JARDIM, S. et
al. - Organização do trabalho, turnos e saúde mental. J. Bras.
Psiq., 43(4):185-9, 1994. KAPLAN, H. I.;
SADOCK, B. J. & GREBB, J. A – Compêndio de Psiquiatria. Porto
Alegre, Artes Médicas, 1997. Moreno, C.; Fischer,
F.M. & Menna-Barreto, L. Aplicações da cronobiologia. In:
MARQUES, N & MENNA-BARRETO, L. (Orgs). Cronobiologia: princípios e
aplicações. São Paulo, EDUSP/Fiocruz, p. 239-54,
1997. OMS –
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10:
Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organização
Mundial da Saúde; trad. Dorgival Caetano. Porto Alegre, Artes Médicas,
1997. REY, L. –
Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. Rio de Janeiro,
Guanabara Koogan. 1999. RUTENFRANZ, J.;
KNAUTH, P. & FISCHER, F.M. - Trabalho em Turnos e Noturno. São
Paulo, Hucitec, 1989. 135 p. [Tradução de Reinaldo
Mestrinel]. SELIGMANN-SILVA, E. - Psicopatologia e Psicodinâmica no Trabalho. In: MENDES, R. (Ed.) - Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro, Atheneu, 1995. p. 287-310. |
SÍNDROME DE ESGOTAMENTO PROFISSIONAL ( BURNOUT
) CÓDIGO CID-10: Z73.0 |
I - DEFINIÇÃO DA DOENÇA/DESCRIÇÃO |
A Síndrome de esgotamento profissional é um tipo de resposta prolongada a estressores emocionais e interpessoais crônicos no trabalho. Tem sido descrita como resultante da vivência profissional em um contexto de relações sociais complexas, envolvendo a representação que a pessoa tem de si e dos outros. O trabalhador que antes era muito envolvido afetivamente com os seus clientes, com os seus pacientes ou com o trabalho em si, desgasta-se e em um dado momento desiste, perde a energia ou “queima completamente”. O trabalhador perde o sentido de sua relação com o trabalho, desinteressa-se e qualquer esforço lhe parece inútil. Segundo Maslach (1993) e Maslach & Jackson (1981/1986), a Síndrome de esgotamento profissional é composta por três elementos centrais:
Deve ser feita uma
diferenciação entre o burnout, que seria uma resposta ao
estresse laboral crônico, de outras formas de resposta ao
estresse. A síndrome de burnout envolve atitudes e
condutas negativas com relação aos usuários, clientes, à organização e ao
trabalho, sendo uma experiência subjetiva que acarreta prejuízos práticos
e emocionais para o trabalhador e a organização. O quadro tradicional de
estresse, não envolve tais atitudes e condutas, sendo um esgotamento
pessoal, que interfere na vida do indivíduo, mas não de modo direto, na
sua relação com o trabalho. Pode estar associada a uma suscetibilidade aumentada para doenças físicas, uso de álcool ou outras drogas para obtenção de alívio e ao suicídio. |
II
– EPIDEMIOLOGIA/FATORES DE RISCO DE NATUREZA
OCUPACIONAL CONHECIDOS |
A síndrome afeta principalmente profissionais da área de serviços ou “cuidadores”, quando em contato direto com os usuários, como os trabalhadores da educação, da saúde, policiais, assistentes sociais, agentes penitenciários, professores entre outros. Ultimamente, têm sido descritos aumentos de prevalência de síndrome de esgotamento profissional em trabalhadores provenientes de ambientes de trabalho que passam por transformações organizacionais como: dispensas temporárias do trabalho, diminuição da semana de trabalho sem reposição de substitutos, enxugamento (downsizing), a chamada reestruturação produtiva. O risco da Síndrome de esgotamento profissional é maior para todos aqueles que vivem a ameaça de mudanças compulsórias na jornada de trabalho e declínio significativo na situação econômica. Todos os fatores de insegurança social e econômica aumentam o risco (incidência) de esgotamento profissional em todos os grupos etários. |
Em geral, os fatores relacionados ao trabalho estão mais fortemente relacionados ao trabalho que os fatores biográficos ou pessoais. Os fatores no trabalho predisponentes para a síndrome mais importantes são: papel conflitante, perda de controle ou autonomia e ausência de suporte social. A relação da “Síndrome de burnout” ou do “esgotamento profissional” com o trabalho, segundo a CID 10, poderá estar vinculada aos fatores que influenciam o estado de saúde: (...) riscos potenciais à saúde relacionados com circunstâncias sócio-econômicas e psicossociais” (Seção Z55-Z65 da CID-10):
Havendo evidências epidemiológicas da incidência da Síndrome em determinados grupos ocupacionais, sua ocorrência poderá ser classificada como “doença relacionada com o trabalho”, do Grupo II da Classificação de Schilling. O trabalho pode ser considerado como fator de risco, no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia multicausal desta doença. Trata-se de um nexo epidemiológico, de natureza probabilística, principalmente quando as informações sobre as condições de trabalho, adequadamente investigadas, forem consistentes com as evidências epidemiológicas e bibliográficas disponíveis. |
III – QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO |
No quadro clínico podem ser identificados:
Geralmente estão presentes sintomas inespecíficos associados, como insônia, fadiga, irritabilidade, tristeza, desinteresse, apatia, angústia, tremores, inquietação, caracterizando síndrome depressiva e/ou ansiosa. O diagnóstico dessas síndromes associado ao preenchimento dos critérios acima leva ao diagnóstico de Síndrome de esgotamento profissional. |
IV – TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS |
O tratamento da Síndrome de esgotamento profissional envolve psicoterapia, tratamento farmacológico e intervenções psicossociais. Entretanto, a intensidade da prescrição de cada um dos recursos terapêuticos depende da gravidade e da especificidade de cada caso.
|
V – PREVENÇÃO |
A prevenção da Sindrome de Esgotamento Profissional envolve mudanças na cultura da organização do trabalho, o estabelecimento de restrições à exploração do desempenho individual, diminuição da intensidade de trabalho, diminuição da competitividade, busca de metas coletivas que incluam o bem-estar de cada um. A prevenção desses agravos requer uma ação integrada, articulada entre os setores assistenciais e os de vigilância. É importante que o paciente seja cuidado por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, que dê conta tanto dos aspectos de suporte ao sofrimento psíquico do trabalhador, quanto dos aspectos sociais e de intervenção nos ambientes de trabalho. Feito o diagnóstico e confirmada a relação da doença com o trabalho deve ser realizado:
O diagnóstico de um caso de Síndrome de esgotamento profissional deve ser abordado como “evento sentinela” e indicar investigação da situação de trabalho, visando avaliar o papel da organização do trabalho na determinação do quadro sintomatológico. Podem estar indicadas intervenções na organização do trabalho assim como medidas de suporte ao grupo de trabalhadores de onde o acometido proveio. |
VI – OBSERVAÇÕES ADICIONAIS E LEITURAS RECOMENDADAS |
BERTOLOTE, J. M. (Org.) – Glossário de Termos de Psiquiatria e Saúde Mental da CID-10 e seus Derivados. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997. CODO, W. (Coord.) –
Educação: Carinho e Trabalho. Petrópolis, Vozes,
1999. OMS –
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10:
Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas – Coord. Organização
Mundial da Saúde; trad. Dorgival Caetano. Porto Alegre, Artes Médicas,
1997. SELIGMANN-SILVA, E. - Psicopatologia e Psicodinâmica no Trabalho. In: MENDES, R. (Ed.) - Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro, Atheneu, 1995. p. 287-310. |
GLOSSÁRIO
Organização do Trabalho: Compreende o modo como as tarefas envolvidas em um determinado processo de trabalho estão divididas entre os trabalhadores; os tempos, os ritmos, a duração das jornadas em que se realizam as tarefas; a remuneração pelo trabalho (salário); e a estrutura hierárquica (relações verticais e horizontais) no trabalho. Numa definição ampla de organização do trabalho estão incluídas as condições de trabalho, ou seja, as condições físicas, químicas, térmicas e psicossociais, onde se processam as situações de trabalho, ou seja, o trabalho propriamente dito. Esta definição ampla de organização do trabalho é exigida pela Psicopatologia do Trabalho pois as condições materiais e psicossociais de trabalho (incluem a pressão, a tensão, as injustiças no trabalho) que também podem ser determinantes de sintomatologia psicopatológica. Por exemplo, o ambiente de trabalho sem condições de higiene é uma condição material de trabalho que afeta a dignidade dos trabalhadores, determinando sentimentos de menos-valia e tristeza. A investigação dos diferentes aspectos da organização do trabalho é fundamental para a avaliação psicopatológica na anamnese ocupacional. A organização do trabalho tem sido apontada como a dimensão do trabalho cujas características guardam relações de determinação mais específicas com sofrimento psíquico e com o adoecimento mental relacionado ao trabalho.
Estresse:
Refere-se aos fenômenos fisiológicos relacionados às reações do
organismo diante de situações agudas de ameaça ou de agressão, envolvendo os
sistemas neuroendócrino, cardiovascular, musculatura estriada, aparelho
digestivo e outros que reagem nas fases imediata e seguintes a uma agressão, a
uma ameaça, a um perigo, caracterizando a chamada “reação de luta ou fuga”. A
fase imediata está associada a uma liberação maciça de adrenalina na
circulação sangüínea, seguida de fases de adaptação. A noção de estresse está
associada a uma linha importante de estudos epidemiológicos e
multidisciplinares que fundamentam a associação entre situações de trabalho
penosas, desgastantes, ameaçadoras e o desenvolvimento de queixas e alterações
psicopatológicas, caracterizando síndromes ansiosas, depressivas e
psicossomáticas.
Desgaste: A noção
de desgaste é subsidiária da noção de carga de trabalho. As cargas de trabalho
são os elementos do processo de trabalho que interatuam dinamicamente entre si
e com o corpo do trabalhador, gerando processos de adaptação que se traduzem
em desgaste. O desgaste é a perda da capacidade corporal e psíquica potencial
e/ou efetiva. Como exemplos de cargas de trabalho temos a atenção permanente,
a supervisão com pressão, a consciência de periculosidade do trabalho, os
ritmos extenuantes, a desqualificação e parcialização do trabalho. Como efeito
temos o desgaste caracterizado ora por acidentes de trabalho com lesões
corporais ora a tensão, a ansiedade permanente, a depressão e a ansiedade e
seus equivalentes somáticos (neuroendócrinos e
psicofisiológicos).
Ideologia Defensiva e Estratégias Defensivas: A ideologia defensiva caracteriza-se por ser uma defesa suscitada pela vivência partilhada pelos trabalhadores(as) dos perigos, riscos, sofrimentos e adoecimentos no trabalho. As vivências coletivas das situações de trabalho determinam o surgimento de verdadeiras estratégias defensivas produzidas e vivenciadas coletivamente, e que em muitos casos chegam a caracterizar uma tradição da profissão. Um exemplo clássico são as estratégias de defesa elaboradas no enfrentamento do perigo inerente ao trabalho pelos trabalhadores da construção civil (atitudes contra-fóbicas como subir a lugares altos sem proteções).
As estratégias defensivas apresentam as seguintes características: